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Academia Americana de Pediatria recomenda que crianças com menos de dois anos fiquem longe de tablets e afins

Mais atividade ao ar livre e menos tela. É o que pede a Academia Americana de Pediatria ao lançar uma página na web trazendo recomendações a pais e pediatras quanto ao uso de televisão, internet, computador e videogames. O objetivo é mostrar o impacto desses meios sobre as crianças, que estariam, nos Estados Unidos, dedicando sete horas do dia em média ao eletrônicos. 

O uso excessivo deste tipo de produto, de acordo com a entidade, pode provocar problemas de atenção, dificuldades na escola, distúrbios de alimentação e do sono. Outra recomendação é de que menores de dois anos fiquem bem longe dessas tecnologias. 

Antes mesmo de saberem da sugestão da entidade americana, Andréia Jacqueline da Silva Vargas, 44 anos, e Luciano Fossá, 46 anos, pais de Heros Vargas Fossá, cinco anos, já tinham a preocupação de dar ao filho uma infância semelhante a que tiveram, com muita brincadeira na rua.

Escolheram morar em um condomínio de casas. Não podiam nem pensar que o filho pudesse preferir computador e televisão a uma partida de futebol. Com uma turma de mais de 20 crianças da vizinhança, o menino corre por tudo, desfruta da piscina e só pega o tablet que ganhou no ano passado quando Andréia e Luciano também estão mexendo em seus eletrônicos. 

A mãe só liberou o videogame quando Heros estava prestes a completar dois anos e, mesmo assim, apenas como recurso para acalmá-lo em restaurantes ou em locais e situações que exigiam mais tranquilidade. Ela teme que o filho se vicie na tecnologia, mas admite que o contato é inevitável. Faz parte da geração do guri. 

— Noto que os amigos dele que moram em apartamento ou que têm pais que não deixam brincar tanto na rua são os mais viciados nesses joguinhos. Chegam lá em casa pedindo para jogar videogame. Eu não deixo. Mando brincarem na rua — conta Andréia. 

Autoconhecimento antes de desbravar joguinhos 

Aline Restano, psicóloga e integrante do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas (Geat), que se dedica a estudar a influência dos eletrônicos na saúde física e mental das crianças, sabe que, em algum momento, os pais terão de colocar a criança na frente da tela. Por isso, é contrária a regras tão rígidas:

— O importante é não prejudicar a interação cognitiva e emocional da criança nos dois primeiros anos de vida. Nesta fase, o principal brinquedo dela é a mãe, a troca de olhar. Uma televisão ligada, por exemplo, tende a desviar a atenção do adulto e do bebê. 

Os médicos dizem que expor crianças nesta faixa etária aos meios eletrônicos é inconcebível. Rudimar Riesgo, chefe do Serviço de Neuropediatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, prega que, antes de interagir com máquinas, a criança precisa se relacionar com o próprio corpo, conhecer-se: 

— A inteligência das crianças precisa de um alicerce, que é feito pelo aprendizado de coisas psicomotoras, como encaixar objetos, tocar em diferentes consistências, andar de pés descalços. Oferecer tecnologias muito cedo seria como construir um prédio pelo topo. 

O pediatra Alexandre Holner Fiore, autor do livro Tem Filhos? Prepare-se para Eles, concorda com Riesgo mas abre exceções. Para ele, expor bebês até 15 minutos à televisão não é prejudicial. 

— Usar como método de emergência para desviar a atenção da criança, tudo bem. Mas as pessoas querem usar isso como recurso para a criança não chorar nunca, nem nunca exigir atenção — avalia o médico. 

Brincadeiras digitais 

Pontos positivos 

- Jogos eletrônicos, como o Minecraft, desenvolvem raciocínio lógico e criativo. 

- Há uma ampla contribuição educacional de alguns jogos e aplicativos. 

- Brinquedos eletrônicos ajudam na preparação para um mundo que exige conhecimentos de informática em quase todas as profissões. 

Riscos 

- Acesso a conteúdo inadequado, como violência e sexo explícito. 

- Isolamento. 

- A tecnologia pode se tornar a única resposta da pessoa para lidar com a frustração e a tristeza 

- Dificuldades motoras, como amarrar o sapato, abotoar a roupa, escrever com lápis e caneta. 

- Lesão muscular e de tendões, obesidade e até problemas neurológicos, como convulsões, podem ser causados pelo excesso de estímulo visual. 

- Até os dois anos, não há qualquer benefício das telas para as crianças. Em excesso, poderia estar pulando uma etapa do neuroamadurecimento. Nesta fase, precisam brincar com brinquedos que desenvolvam a habilidade motora. 

- Até os quatro anos, a área do cérebro "detectora de novidades" não é madura. Por isto, deve-se evitar estímulos eletrônicos nesta fase. 

Recomendações 

- Deixe a criança no máximo duas horas em contato com dispositivos eletrônicos e tente ocupar o restante do tempo com livros, revistas e jogos de tabuleiro. Assista à televisão com as crianças e proponha debates sobre os temas exibidos. 

- Desligue computadores e televisores durante as refeições. 

- Converse com seu filho sobre mídias sociais 

- O computador deve estar na área comum da casa e não no quarto da criança. Isso ajuda no controle do conteúdo acessado e no tempo gasto com o equipamento. 

- Fique atento se a criança está muito tempo vidrada nas telas ao ponto de perder o interesse pelas pessoas e por outras atividades. 

Fonte: Zero Hora

Edição: A.N.

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