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Google investe em nanotecnologia contra o câncer

Google Inc. está desenvolvendo minúsculas partículas magnéticas para patrulhar o corpo humano em busca de sinais de câncer e outras doenças, o exemplo mais recente das vastas ambições da gigante americana da internet. O Google informou que suas nanopartículas, que têm menos de um milésimo da largura de uma célula sanguínea, iriam procurar e unir-se às células, proteínas ou outras moléculas no interior do corpo. A empresa também está trabalhando num aparelho, a ser usado no corpo, que tem um ímã para atrair e contar as nanopartículas, como ferramenta de monitoramento.

O objetivo é fornecer um sistema de alerta precoce para o câncer e outras doenças, visando tratamentos mais eficazes.

“Todos os exames que as pessoas têm que fazer no médico serão feitos através deste sistema”, disse Andrew Conrad, chefe da equipe de Ciências da Vida no laboratório de pesquisas Google X, que divulgou o projeto na terça-feira, durante a conferência ao vivo do The Wall Street Journal. “Esse é o nosso sonho.”

Mas ele ainda vai demorar, provavelmente, mais de cinco anos para se tornar realidade, dizem especialistas do setor, e enfrenta enormes desafios, tanto técnicos como sociais. Os pesquisadores precisam identificar materiais para cobrir as partículas e ajudá-las a se ligar a células específicas. E o Google ainda não sabe quantas nanopartículas seriam necessárias para que o sistema funcione. Além do mais, o dispositivo de vestir precisa ser pequeno o bastante para ser discreto, mas tem que acomodar uma bateria que não precise de recarga frequente.

O Google poderia oferecer as nanopartículas numa pílula. Um sistema desse tipo enfrentaria “exigências regulatórias muito maiores do que os instrumentos convencionais de diagnóstico”, diz Chad A. Mirkin, diretor do Instituto Internacional de Nanotecnologia da Universidade Northwestern, no Estado americano de Illinois, e um dos fundadores de três empresas de nanotecnologia médica.

Além das barreiras técnicas e regulatórias, há questões sociais, como a privacidade. A noção de que o Google poderia monitorar um corpo humano 24 horas por dia deve preocupar críticos que reclamam que a empresa já tem acesso a informações demais.

Conrad disse que o Google não vai coletar nem armazenar dados médicos. Em vez disso, pretende licenciar a tecnologia para outras empresas, que vão cuidar das informações e sua segurança.

A iniciativa é uma das várias do Google para se expandir em novas áreas, além da publicidade on-line. Muitos desses projetos são conduzidos pelo laboratório de pesquisas Google X, como o do automóvel que se autodirige, balões de grande altitude para transmitir sinal de internet, e os óculos computadorizados Google Glass.

A equipe de Ciências da Vida do Google X quer que os dados das pessoas sejam aproveitados para tornar a medicina mais proativa e não reativa. Seu estudo Baseline está elaborando uma imagem detalhada de um ser humano saudável, examinando geneticamente amostras de milhares de pessoas. A equipe também está desenvolvendo uma lente de contato nteligente para medir a glicose dos pacientes com diabetes através da lágrima.

O projeto das nanopartículas envolve mais de 100 funcionários do Google recrutados de diversas áreas, como astrofísica, química e engenharia elétrica. O Google não revela o custo do projeto.

Os defensores da ideia acreditam que a nanotecnologia tem grande potencial na medicina. Até agora, porém, ela produziu poucos produtos comerciais de sucesso. O governo americano investiu mais de US$ 20 bilhões em pesquisas de nanotecnologia desde 2001 — cerca de US$ 4,3 bilhões vindos da área de saúde.

Nanosphere Inc., fundada com base num trabalho do laboratório de Mirkin publicado em 2000, vende testes de diagnóstico baseados na nanotecnologia, capazes de examinar rapidamente o sangue, a saliva e a urina em busca de causas de infecção. Mas seus produtos têm tido aceitação muito lenta. A ação da empresa caiu 98% em relação ao seu pico, atingido logo após a abertura de capital, em 2007.

Outra empresa baseada nas pesquisas de Mirkin, a AuraSense Therapeutics LLC, de capital fechado, está usando a nanotecnologia para criar formas globulares de DNA projetadas para tratar o câncer e outras doenças. Bill Gates e o diretor-presidente do Google, Eric Schmidt, estão entre os seus investidores.

Bind Therapeutics Inc. está fazendo ensaios clínicos com nanopartículas dentro do corpo para introduzir remédios contra doenças como o câncer.

O Google está empregando uma ideia semelhante para usar nanopartículas no interior do corpo, não para introduzir drogas, mas para testes e monitoramento contínuos, diz Robert Langer, especialista em nanomedicina do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e um dos fundadores da T2 e da Bind.

O Google divulgou que tem feito progressos na criação das minúsculas partículas de óxido de ferro e na identificação dos revestimentos que fariam elas se ligarem às células corporais. Conrad disse que espera poder “pintar” as nanopartículas com um anticorpo que reconheça uma proteína na superfície das células tumorais e se prenda a elas.

O Google ainda está pelo menos a cinco ou sete anos de ter um produto aprovado para uso médico, diz Sam Gambhir, chefe da cadeira de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, que é consultor do projeto.

Mesmo que o Google consiga que o sistema funcione, não está claro como interpretar os resultados. Daí o estudo Baseline, que deverá criar um ponto de referência para comparações. “Precisamos saber os níveis saudáveis dessas moléculas portadoras de doenças no sangue e ainda não sabemos”, disse Conrad.

Fonte: WSJ
Enviada por JC

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