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A Austrália ou o que mudou no planeta bola

Quando a seleção da Austrália, 62ª colocada no ranking da Fifa, joga melhor (contra a Holanda) do que o Brasil (contra o México), é porque algo está mudando ou já mudou no planeta bola. Mudança, de resto, retratada no título do espanhol "El País": "Austrália divierte ante Holanda". Pois é, não faz tanto tempo assim, era o Brasil que divertia a todos, brasileiros e estrangeiros, contra qualquer adversário. Agora, o Brasil dá angústia, como o fez contra a Croácia e, principalmente, contra o México.

O Brasil foi o inventor do "jogo bonito", expressão que boa parte da mídia internacional encampou em português mesmo, até nos Estados Unidos, país que não tem particular apreço pelo "soccer". Nesta Copa, bonito mesmo foi o gol do australiano Tim Cahill contra a Holanda, justamente a Holanda que havia marcado três gols espetaculares contra a Espanha.

Por falar em Espanha, eis outro sinal de que algo mudou no futebol. Sucessora do Brasil como titular do "jogo bonito", tornou-se a campeã mundial mais rapidamente eliminada da Copa seguinte ao título.

Para quem gosta da arte que é o futebol, dá imensa tristeza ver o meio-campista Xavi no banco, no jogo contra o Chile, como se tivesse sido o responsável pela derrota anterior contra a Holanda.

Afinal, como escreveu "El País", antes ainda da eliminação, Xavi foi "o grande ideólogo com chuteiras da Espanha mais feliz", a que, como o Brasil de antanho, divertia o seu próprio público e os não-espanhóis que são capazes de ver o jogo como espetáculo e não como afirmação de nacionalidade.

O que mudou ou está mudando no planeta bola? Sobraram poucas seleções que podem ser consideradas derrotadas antes de entrar em campo.

O caso da Austrália, semi-virgem em Mundiais, é ilustrativo. Foi eliminada, mas endureceu contra uma Holanda, que já teve a sua fase de encantar o mundo, e também contra um Chile que conseguiu este ano montar a sua melhor seleção de todos os tempos.

Ilustrativo, mas longe de ser único. O próprio Chile é outro exemplo: 14º no ranking da Fifa, já está na fase de grupos, disputadas apenas duas partidas, com 5 gols a favor e só 1 contra.

É uma mudança que ainda precisa de tempo para ser bem decodificada. Mas há dois fatores que parecem tê-la favorecido: uma é o avanço na preparação física dos atletas, hoje científica, o que faz com que equipes menos talentosas se equiparem às grandes porque quase todas estão no limite de sua condição física.

A outra é a migração em massa de jogadores para a Europa, com dois efeitos: tornou os clubes europeus insuperáveis em qualidade (e fez murchar os clubes brasileiros, por exemplo), mas fortaleceu as seleções nacionais que podem contar com a sua diáspora de volta, aperfeiçoada física e tecnicamente.

Quanto ao Brasil, continua entre os favoritos, primeiro porque sua seleção está mais ou menos no mesmo nível das grandes rivais e, segundo, porque, de acordo com simulação de três grifes do setor financeiro, a equipe local, por jogar em casa, já começa cada partida ganhando por 1 a 0.

Pode bastar para vencer, mas não para divertir.


Fonte: Valor Econômico/ Clóvis Rossi

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