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Bolsa de mulher: o que devemos fazer para chegar na igualdade entre os gêneros?

Comecei a me interessar por tecnologia quando visitei um museu fascinante de ciência e tecnologia em Chicago, ainda criança. Minha mãe era professora de literatura e sempre escrevia, mas percebi que preferia uma área em que eu pudesse achar respostas definitivas. Quando você escreve, sempre tem como melhorar um texto. Na matemática, só uma resposta é certa. Fiz faculdade em matemática e química na UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles) e depois fiz mestrado em engenharia aeronáutica em Stanford. Minha sala tinha 250 pessoas --duas eram mulheres. Quando terminei o curso, decidi que queria entrar no mundo dos negócios e fui vender computadores e programar.

Fundei a Ask, minha primeira empresa, em 1972, no quarto de hóspedes do meu apartamento, com US$ 2.000. Na época, estava grávida de Andy, meu primeiro filho, e queria algo para me ocupar enquanto ele dormia.

Usava um daqueles computadores que só tinham texto e armazenava dados em cartão perfurado. Foi do mesmo jeito que Bill Gates começou a Microsoft (ele se deu melhor que eu, mas não reclamo).

Nunca tive dinheiro de investidores: naquela época não se investia em software e não havia tanto dinheiro disponível. Mas passo a passo, me cercando de pessoas jovens e talentosas, a Ask chegou a valer perto de US$ 1 bilhão.

Em 1981, tornou-se a primeira empresa de tecnologia comandada por uma mulher a ofertar ações na Bolsa. Mas, nos negócios, sempre pensei em mim mesma como alguém que por acaso é uma mulher. Eu nunca fiz um estardalhaço por isso, a imprensa é que faz. Não sou feminista, não sei o que a palavra significa. O que acredito é que, não importa se você for homem, mulher, preto, roxo ou laranja, pode ser tudo o que puder ser.

Depois que a Ask se tornou pública, o "Wall Street Journal" não punha um aviso do lado do nosso nome dizendo "comandada por uma mulher". A gente aparecia do mesmo jeito que a IBM, que todas as outras: sua sigla está lá, o preço das suas ações está lá; o gênero não importa.

Isso não significa que vivamos em um mundo de igualdade entre os gêneros e em que mulheres acreditam que podem fazer o que quiserem. Infelizmente, estamos chegando nesse ponto tão rápido quanto os Estados Unidos adotam o sistema métrico.

Passei quase 20 anos na Ask e cheguei ao topo do mundo dos negócios; na maior parte do tempo, fui mãe solteira e tive que me equilibrar entre cuidar dos meus filhos e dos negócios. Eles sempre foram minha prioridade, mas não teria sido feliz se passasse os dias só trocando fraldas.

Chegou um ponto, porém, em que eu cansei de dias de trabalho que duravam 18 horas e me aposentei. Durante os 20 anos seguintes, investi em outros negócios e me dediquei a hobbies.

Até que um dia conversava com o presidente da Salesforce, Marc Benioff, e perguntei a ele em que empresa de software de gestão eu deveria investir. Ele respondeu: "Na sua". Assim, em 2010, fundei uma nova start-up, a Kenandy, que presido até hoje, para fazer isso. [Em 2013, a empresa arrecadou cerca de US$ 30 milhões em financiamento].

Já me perguntaram um bilhão de vezes o que devemos fazer para chegar na igualdade entre os gêneros. Não sei a resposta, mas acho que isso tem que partir dos pais.

É importante que comecem a incutir na cabeça dos filhos, meninos e meninas, que eles podem ser o que quiserem e meus pais fizeram isso. Eles não me estimularam a entrar no mercado de tecnologia, mas minha mãe sempre dizia "qualquer um que tem cérebro pode ser bem-sucedido".

Fonte: The New York Times / Sandra Kurtzig

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