Politicos, jornalistas, pastores, padres, enfermeiras, médicos, psicólogos, administradores... enfim, são tantas as profissões cujo exercício se fundamenta em obter e compartilhar informações detalhadas da vida dos outros. Ontem, por exemplo, alguém da empresa me procurou, com os olhos arregalados, dizendo: "você sabia que a Heloísa está grávida"? Uma típica fofoca, não é? Mas como está informação (ou fofoca?) tem importância estratégica!!
Ora, a Heloísa comanda um dos nossos departamentos mais relevantes, e não há ninguém treinado para substituí-la de imediato.
"Mas, substituí-la?" - você poderá perguntar. Isso mesmo: não nos esqueçamos de que 30 % das grávidas desenvolvem, durante os 3-4 primeiros meses da gravidez, condições extremamente limitantes, tais como a hiperemese gravidica (náuseas, vômitos, desidratação) que costumam resultar em muitas entradas em pronto-socorros e até internações hospitalares.
Assim, o acesso precoce à informação de que Heloísa está grávida foi fundamental do ponto de vista da operação organizacional, pois imediatamente comecei a busca por alguém que possa iniciar um treinamento naquela função, para evitar surpresas futuras.
Portanto, a fofoca desfruta de uma imerecida má fama. Até porque a fofoca quase sempre não se constitui numa mentira, mas sim num fato que quase aconteceu. Mesmo assim, os dicionários a definem como "uma conversa sobre outras pessoas, geralmente envolvendo detalhes não confirmados". Mas, com certeza, essa é uma prática muito benéfica para a nossa espécie, pois há pesquisadores afirmando que, desde a origem da humanidade, a fofoca é o tema central de 70 por cento das conversas, em qualquer país, em qualquer nível cultural...
E agora a literatura científica está trabalhando para resgatar a reputação da fofoca, até porque no ambiente universitário ela frutifica com grande viço: um artigo recente, publicado na revista "Psychological Science", defende a tese de que a fofoca tem sua utilidade social, pois, segundo os autores, comentar das pessoas pelas costas melhora a cooperação, reforça o código moral, pune as pessoas egoístas e recompensa as altruístas.
Se as pessoas ficam sabendo que estão sendo isoladas por mau comportamento, elas vão se comportar melhor da próxima vez. Se isso for verdadeiro, conclui-se que a fofoca é muito importante no ambiente executivo. Pois é, ela nos ajuda a saber quem evitar, aponta os chefes ameaçadores, aproxima as pessoas e reforça a cultura da empresa. Mas, para que a fofoca atinja seus objetivos benéficos, aquele que é objeto de inspiração da história precisa tomar conhecimento da conversa que está rolando sobre ele. Daí a importância dos divulgadores virais, como é o caso das mídias sociais, colunas de imprensa, reuniões de família, casamentos, etc.
Mas, na verdade, ainda assim, muito pouco do que falam de nós, pelas costas, chega ao nosso conhecimento. E por isso perdemos muitas chances de corrigir nossos hábitos e comportamentos. Assim, ferramentas como o Oiaqui cumprem uma valiosa função educadora, pois põem o alvo da fofoca cara a cara com a crítica, sem o incomodo e os riscos de identificar nominalmente seu divulgador.
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