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Cientistas se aproximam de uma cura universal para a gripe

Pesquisadores e profissionais da área da saúde frequentemente salvam vidas ao aplicar vacinas sazonais e remédios para combater o vírus e suas infecções. No entanto, nos EUA, a gripe ainda mata dezenas de milhares de pessoas e hospitaliza centenas de milhares.

Grande parte do problema foi resolvido prevendo quais estirpes do vírus serão combatidas em cada estação do ano. Uma equipe de cientistas dos EUA e da China diz ter criado uma vacina que tornaria desnecessário adivinhar qual o vírus a ser enfrentado em cada período, pois ela aumentaria a capacidade do sistema imunológico de combater o influenza.

Um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) publicou um artigo na edição da revista Science dessa semana relatando como eles podem ter criado a mais “precisa” das vacinas contra gripe, uma que consegue gerar uma forte resposta imunológica sem fazer com que os animais infectados adoeçam. Diferentemente das vacinas atuais, a nova versão também gera uma reação forte nos glóbulos brancos sanguíneos, também chamados de células T, que combatem doenças. Essa evolução é importante porque a resposta das células T provavelmente vai oferecer uma proteção mais longeva, e contra uma maior variedade de vírus, do que as atuais vacinas (porque as células T se focariam em diferentes características do vírus da gripe, enquanto atualmente os anticorpos se concentram no formato das células de cada estirpe). "Isso é muito animador" diz Kathleen Sullivan, dirigente da Divisão de Alergia e Imunologia no Hospital Infantil da Filadélfia, que não participou das pesquisas.

O que a equipe da Universidade da Califórnia fez de diferente? As vacinas contra gripe incluem um coquetel de vários tipos de vírus mortos. Ao injetar esse mix, o corpo começa a desenvolver anticorpos que podem combater qualquer intruso que se pareça com a gripe, ajudando a prevenir a infecção. No entanto, esse método padrão não leva a uma reação significativa das células T, pois o vírus está morto. A nova vacina, por sua vez, utiliza um vírus vivo, o que cria no organismo anticorpos e células T - pelo menos foi o que o ocorreu nos furões e camundongos de laboratório. "Há o recurso de acionar tanto a resposta dos anticorpos como a das células T - então, se o vírus não for combatido pelo primeiro ataque, haverá ainda as células T para assegurar que a pessoa não fique muito doente," diz Sullivan.

Os pesquisadores dissecaram o vírus da gripe e o testaram com diferentes mutações em cada segmento. Então observaram quais vírus respondiam quando eram expostos ao interferon, uma proteína liberada pelo corpo quando os vírus atacam e que ajuda a manter sob controle as infecções virais. Assim, os cientistas conseguiram identificar quais mutações em cada segmento tinham mais chances de gerar uma resposta de interferons protetores. Munidos dessas informações, os pesquisadores criaram uma estirpe de gripe mutante potente o suficiente para se multiplicar, mas muito suscetível a nossa habilidade corporal de controlar o vírus - fatores ideais para uma vacina.

A vacina resultante parece promissora tanto em furões como em camundongos, as cobaias mais utilizadas em pesquisas do vírus influenza. Se a abordagem funcionar tão bem assim em humanos, os autores dizem que sua ela poderia tornar desnecessárias as aplicações de vacinas anuais (embora não tenham certeza sobre a quantidade de tempo que a vacina continua efetiva em humanos, as respostas das células T tendem a aumentar a imunidade a longo prazo.) Os cientistas acreditam que, porque incluíram oito mutações na estirpe do vírus laboratorial, é improvável que ele volte a sua forma original, que é a forma mais perigosa (uma preocupação comum com qualquer vacina que utiliza vírus vivos.) Esse estudo pode também trazer outros benefícios: "Outros pesquisadores poderiam, de forma similar, separar certos vírus no laboratório, avaliar mutações importantes e criar vacinas para várias infecções”.

Apesar de promissora, há múltiplos obstáculos no caminho da vacina. Em um texto complementar importante na revista Science, cientistas do Instituto de Pesquisa Scripps advertiram sobre esses possíveis empecilhos. Embora o time da UCLA tenha descoberto algumas proteções entre um pequeno conjunto de estirpes da gripe - subtipos H1N1 e H3N2-, elas poderiam não funcionar para todas as formas da doença. Os pesquisadores também têm de examinar se forçar uma resposta imune robusta ao vírus pode ser perigoso, Sullivan nota, porque uma resposta frenética do sistema imunológico destrói tecidos pulmonares e isso pode ser fatal quando as pessoas estão infectadas com o H5N1, um tipo de gripe aviária "Há muitas questões práticas antes de testar essa técnica em humanos," ela diz, "Mas isso é muito inovador e emocionante."

Fonte: Scientific American

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