Han e Sophia debatem o futuro da humanidade frente à ameaça dos robôs. Para Han, em 10 ou 20 anos, os robôs substituirão os humanos em todas as tarefas, uma previsão contestada por Sophia. Sua aposta é que os robôs vão interagir com os humanos e não se sobrepor a eles. Han, contudo, insiste: “O objetivo dos robôs é dominar o mundo”. Os palestrantes Han e Sophia são dois robôs da Hanson Robotics, conhecida como a fabricante de robôs “mais humanos”, dotados de expressividade, estética e interatividade. Com pele maleável, têm dezenas de computadores acoplados.
Han é capaz de simular uma gama completa de expressões faciais, rastrear os rostos da audiência, reconhecer rostos e imitar as expressões faciais de outras pessoas. Sophia, que incorpora a beleza clássica de Audrey Hepburn, é o robô mais recente e mais avançado da Hanson Robotics. Com forte exposição na mídia, Sophia já cantou em concerto, foi capa de revista feminina, participou de fóruns de negócios e deu uma palestra sobre o papel da robótica e da inteligência artificial (IA) na sociedade.
Dentre os projetos da suconferência TalkRobot, realizada em julho em Hong Kong, os robôs assistentes domésticos dominaram. Paul Wu, da Ubtech Robotics, apresentou o Alpha 2 como o primeiro humanoide para a família. Ele é capaz de lembrar compromissos, fazer pequenos reparos, cozinhar, configurar alarmes, lembrar horários de medicamentos, fazer ligações telefônicas, checar mensagens de voz, ler e enviar textos e e-mails. Gostou? O Alpha 1 está disponível on-line por R$ 1.541,45.
Os robôs, gradativamente, vêm substituindo os humanos em atividades diversas. Em 2014, a empresa de capital de risco japonesa Deep Knowledge indicou Vital, um robô, para seu conselho de administração, com a responsabilidade de analisar oportunidades de investimento no setor de saúde. Em comunicado, a Deep Knowledge declarou que as variáveis envolvidas no sucesso a longo prazo de uma empresa de biotecnologia são muitas e complexas, demandando a manipulação de Big Data para identificar tendências que não são óbvias para os seres humanos.
Em um futuro próximo, a experiência da Deep Knowledge não será mais inusitada: pesquisa realizada pelo Conselho de Agenda Global do Fórum Econômico Mundial com 800 executivos entrevistados, 45% afirmaram esperar que uma máquina de inteligência artificial tenha assento no conselho de administração de suas empresas até o ano de 2025. A tendência é a inteligência artificial assumir um vasto leque de funções na sociedade. Estudo da Universidade de Oxford concluiu que cerca de 47% dos empregos nos EUA estão na categoria de alto risco. A previsão é de que em breve serão substituídas as ocupações em transporte e logística, em escritório e suporte administrativo em geral.
A Conferência Rise, onde Sophia e Han debateram, é o maior evento de tecnologia da Ásia. Contou com 250 palestrantes, 400 investidores, cobertura de 565 veículos de mídia e 15 mil participantes de mais de 100 países. A delegação do Brasil tinha cerca de 30 pessoas.
Privacidade
O dilema privacidade versus conveniência ganhou destaque nos debates. A percepção predominante é a de que estamos cada vez mais dispostos a trocar nossos dados pessoais, advindos da movimentação na internet, por conveniência — no sentido amplo: desde o acesso ao Facebook e ao Google e a tudo que eles oferecem, até o compartilhamento nas redes sociais, ou em comunidades de interesse, de questões específicas em busca de recomendação, solidariedade, troca de experiências, passando pelo acesso do aplicativo Waze aos nossos itinerários. Uma das consequências é a crescente exposição pública de temas até recentemente restritos ao âmbito privado (sexo, saúde etc.).
A visão de que a IA promove uma melhor capacitação dos humanos predominou no Rise, com vários palestrantes argumentando que a função da IA é a coleta e a manipulação dos dados, mantendo o foco humano nos processos de decisão. Como disse Gong Fengmin, atual vice-presidente de pesquisa do Didi Chuxing, maior serviço de transporte urbano por aplicativo da China, a função da inteligência artificial é tornar os humanos super-humanos, e não substituí-los. Essas ideias confrontam radicalmente com o que vem sendo debatido nos fóruns acadêmicos, como a conferência "A Ética da Inteligência Artificial”, organizada por dois filósofos da Universidade de Nova York.
O Rise subdivide-se em subconferências temáticas. A AutoTech é sobre veículos autônomos, drones, “wearables”, internet das coisas, com foco nos caminhos que redefinem nossa interação com os produtos do dia a dia. O carro e a mobilidade urbana permearam vários painéis, com amplo reconhecimento de que estamos no início de uma revolução no conceito de transporte, ungida pelos carros elétricos, pelas plataformas como Uber, pelo compartilhamento do uso do carro -- sites de carona -- e pelos carros autônomos (sem motorista).
Em cinco ou dez anos, o carro deixará de ser uma propriedade particular/individual para se transformar em um serviço de transporte, migrando de bem de consumo para serviços. O pré-requisito é uma comunicação eficiente, por meio de tecnologias de IA, entre o carro autônomo e a infraestrutura da cidade. Para Michael Kaiser, da National Cyber Security Alliance (fundação sem fins lucrativos dedicada a tornar o mundo digital mais seguro), “o futuro é um mundo interligado, em que o carro autônomo vai conversar com a infra-estrutura, com a montadora, com todo o ecossistema”. Espera-se que em sete anos os carros autônomos predominem nas ruas dos grandes centros, tendo a China como pioneira.
Sophia e Han com seu criador Ben Goertzel da Henson Robotics. (SCMP/Nora Tam) |
Na MoneyConf, sob o título Bancos e startups, amigos ou inimigos?, Darryl West, do HSBC, abordou o conceito de FinTech. O termo deriva da junção de Finanças e Tecnologia e refere-se a organizações que combinam modelos de negócios inovadores e tecnologias gerando processos disruptivos em serviços financeiros. Em geral, o conceito de FinTech compete às startups financeiras, que são projetos iniciantes com potencial de “escalar”.
Na última década, o investimento em FinTech, globalmente, cresceu mais de 15 vezes: de um total aproximado de US$ 6,8 bilhões em 2005 para US$ 107 bilhões em 2017, concentrado em soluções para pagamentos, transferências, processamentos, destacando-se a emergência recente do Blockchain. Do total investido, 72,1 bilhões de dólares foram alocados no mercado americano.
A mídia monopolizou o espaço Panda, sinalizando que no futuro o acesso (ou consumo) de informações e notícias, bem como pesquisa e conhecimento, será por meio de perguntas e respostas. Assistentes pessoais inteligentes, mas não exclusivamente -- como o Siri da Apple, o Google Now e a Cortada da Microsoft - serão os mediadores.
A proliferação de “fake news” (notícias falsas), outro tema de interesse, foi atribuída ao próprio modelo de negócio da indústria da mídia: dependente da publicidade, com foco em gerar “buzz”, consequentemente volume de conexões.
A necessidade de monetizar as notícias incentiva a produção de ‘fake news”. A solução passa pela tecnologia na medida em que não existe como constituir uma autoridade centralizada apta a controlar o “cross-media” e a propagação da informação. Alguns ponderam, contudo, que a Internet mudou a própria ideia de “verdade”, lembrando que a “fake News” sempre tem uma “agenda” por trás, nunca é descompromissada, ou seja, não se trata de um fenômeno espontâneo.
Quem atraiu a maior audiência de todo o Rise foi Gary Vaynerchuk, empreendedor americano, pioneiro do marketing digital, investidor anjo do Uber, Snapchat, Facebook Twitter, entre outros. Ele esteve em um painel de perguntas e respostas mediado por Cheryl Marella da CNN. A VaynerMedia é uma das agências digitais mais populares com um portfólio de clientes que inclui JPMorgan Chase, AB-InBev e General Electric. Muito aplaudido, com seu estilo vigoroso e desafiador, Gary desconstruiu conceitos e ideias tradicionais sobre mídia e publicidade.
Na binate.io, cientistas de dados, analistas, hackers e engenheiros compartilharam com especialistas do LinkedIn, Yandex e Salesforce os desafios para as empresas em como, por exemplo, sincronizar a ciência de dados e as equipes de marketing e alinhar os processos de decisão às informações extraídas dos dados. “Dados" é visto como fonte de poder nos negócios porque permite elaborar previsões e tomar decisões com base nelas. O Big Data promove a eficiência dos processos e dos resultados. Por meio dos algoritmos, o mercado aprende mais sobre os clientes melhorando a experiência de consumo.
O cofundador e vice-presidente executivo do Alibaba, Joe Tsai, compartilhou a experiência de seu grupo em vários painéis. Para ele, a expectativa acelerada dos consumidores por novos produtos e serviços, e por ser surpreendido com novos modelos de atendimento, impõe ritmo equivalente à indústria. Nesse sentido, o grupo tem investido fortemente em IA, mas Tsai ressalta que "não se trata de algo que podemos acordar de manha e pensar: 'ok, vamos investir em IA', mas trata-se de um investimento contínuo”.
Todas as empresas do Alibaba seguem um mesmo ciclo: primeiro, identifica e cria os produtos que as pessoas querem. Entre três e quatro anos depois, pensa no modelo de negócio; cinco ou sete anos mais tarde, pensa na rentabilidade. No décimo ano, pensa em como se reinventar. Segundo Tsai, o foco inicial é sempre em conceber produtos que atendam às necessidades e desejos do consumidor, sem isso o negócio não se desenvolve.
Indagado pela mediadora, Yun-Hee Kim do “The Wall Street Journal”, sobre o futuro do Alibaba, Tsai ponderou “vimos a Amazon investir 7 bilhões de dólares na aquisição da Whole Food, e vemos outros grupos investindo em aquisições que nem sempre dão retorno. Nossa prioridade é expandir geograficamente, tendo como precondição gestores locais, com paixão e perfil empreendedor”, o que explica os investimentos recentes do Alibaba na Índia e na África do Sul. Apesar de seguir uma estratégia distinta, Tsai compreende o interesse da Amazon pela Whole Food (supermercado americano de produtos orgânicos): “o consumidor almeja uma relação contínua com as marcas, conectando-se online e offline, aliás essa separação não importa mais nem na comunicação, nem no consumo e nem nos negócios”.
O papel estratégico dos ecossistemas integrados e amigáveis para a emergência de inovação disruptiva, talvez tenha sido o maior alerta da RISE; um ambiente de negócio com apenas alguns fatores favoráveis não dá conta da complexidade atual. As referências estão no Vale do Silício na Califórnia e o Silicon Wadi em Israel, e em regiões da Ásia como Hong Kong, Shenzhen, Shangai, Hangzhou, todas Hubs de tecnologia.
Fonte: Valor
Enviada por JC