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Os cuidados que devem ser tomados na hora de comprar carne

Na última sexta-feira (17), a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca. Desde então, muito se falou sobre o escândalo de liberação de licenças e fiscalizações irregulares de funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aos frigoríficos. Até o momento, 35 pessoas foram presas e 33 servidores públicos afastados de seus serviços. Entre os frigoríficos envolvidos no caso, estão unidades pertencentes a grupos importantes como BRF (Sadia e Perdigão) e JBS (Friboi, Seara e Swift).

A operação repercutiu no mercado financeiro e nas relações comerciais do Brasil com parceiros tradicionais da carne nacional – terceiro produto mais exportado pela nação, atrás apenas da soja e do minério de ferro, e que chega a movimentar US$ 14,5 bilhões por ano. Outro ponto que ficou abalado, foi a confiança do mercado consumidor interno brasileiro com o produto.

Muitas pessoas ficaram inseguras de continuar consumindo carne no país, principalmente motivadas por interpretações equivocadas sobre o processo  – como a hipótese de ter ocorrido a mistura de papelão às carnes.

“É impossível picar papelão e misturar numa salsicha. Eles simplesmente se misturam”, esclarece Roberto Roça, professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp e especialista em Tecnologia de Produtos de Origem Animal, com ênfase em Tecnologia de Carnes.

Posso continuar consumindo carne brasileira?

De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, não há porque sentir medo de consumir carne brasileira.

“A Carne Fraca envolve frigoríficos pontuais. A cadeia produtiva de carne no Brasil é forte e rigorosa. O consumidor pode, sim, confiar nas informações dos rótulos”, diz Fabio. “O problema, aparentemente, não é generalizado no Brasil. É seguro comer carne no país, ainda. É importante procurar carnes inspecionadas“, defende.

Cuidados na hora de comprar

Para evitar os riscos de encontrar carnes mascaradas, a população de Porto Alegre está trocando o consumo de produtos embalados dos supermercados pela carne fresca vendida nos açougues, como mostrou a reportagem da BBC. Contudo, a alternativa escolhida pelos gaúchos não impede que o consumidor não se atente a informações importantes sobre a origem da carne.

“Mesmo no açougue, é importante que se consuma carne inspecionada. Carne clandestina ou carne sem a supervisão de um veterinário pode veicular diversos microorganismos e doenças”, diz Fabio.

A inspeção das carnes acontece em nível federal, estadual e municipal. Após ser aprovado, o lote da mercadoria recebe um selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), e dos serviços de inspeção de cada estado e município brasileiro.

São esses selos que indicam se o produto pode ser comercializado no país inteiro – e também exportado. Caso ele tenha apenas selos de aprovação em nível estadual e municipal, a venda da carne fica restrita aos estados e municípios em que ela está autorizada. Este selo também aparece nos rótulos das embalagens de carnes vendidas em supermercados.

“Caso opte por carne de açougue, o consumidor deve pedir que o corte da carne seja feito na hora ou dar preferência a embalagem à vácuo. Porque é difícil saber quando a carne foi embalada. Supermercados grandes tem técnicos que fazem vistorias constantes de suas geladeiras. Já os pequenos não têm uma equipe grande para isso”, explica Roberto.

Apesar de ser a ideal, a embalagem à vácuo pode oferecer riscos à população caso sejam identificadas bolhas de ar no pacote. “A carne deve estar aderida a embalagem, sem nenhum furo.”

Apesar de ser a embalagem ideal, o tipo à vácuo pode alterar a cor da carne. A alteração acontece devido à ausência do oxigênio do ar. Mas assim que você retira a carne da embalagem, volta a ficar vermelho vivo”, explica Roberto.

Riscos à saúde

As precauções indicadas pelos especialistas ajudam a evitar a compra de carnes contaminadas. Porém, eles salientam que há agentes patogênicos que podem passar despercebidos de uma avaliação visual. É o caso da salmonella. 

De acordo com Fábio, uma carne que não está estragada ou com aspecto adulterado – cheirando podre – pode abrigar um microorganismo patogênico que vá fazer mal a quem ingeri-la. “É muito comum que alimentos que estejam aparentemente saudáveis tenham salmonella – que não é um patógeno que não estraga a carne, mas vai fazer mal a quem consumir.”

Para evitar a contaminação, é preciso que as carnes estejam armazenadas nas condições indicadas pelos órgãos de fiscalização. Por isso, é preciso que o consumidor tenha consciência da condições de armazenamento dos locais onde compra o alimento. Além disso, a carne crua precisa ser devidamente higienizada antes do preparo e deve-se evitar o consumo de peças cruas ou má cozidas.

Marcas envolvidas na operação

A operação montada pela PF mostrou irregularidades que permitiram a entrega de produtos adulterados e com suas reais propriedades físicas mascaradas aos consumidores.

O esquema envolveu 21 frigoríficos pertencentes a grupos importantes do setor, como BRF e JBS. Três deles foram interditados – BRF de Mineiros (MG) e unidades da Peccin Agro Industrial em Curitiba (PR) e Jaraguá do SUl (SC) e cinco tiveram sua licença suspensa, informaram a associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Apesar das interdições e suspensões, não há recomendação por parte do governo para que nenhuma marca deixe de ser consumida pela população.

Aditivos descobertos

De acordo com a PF, os frigoríficos utilizavam níveis acima do permitido de aditivos como o ácido ascórbico.

Segundo especialistas, a substância em si não traz risco à saúde. “Se a carne estiver com muita adição de conservantes ou aditivos, ela desencadeia uma desinteria ou gastrenterite em quem o consumiu”, explica Teresa de Ávila Ribeiro de Figueiredo, técnica do Laboratório de Bromatologia da Unifesp.

“O problema acontece quando eles são utilizados com a intenção de mascarar uma contaminação, uma carne antiga ou podre” disse Fabio Possebon, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia na Unesp e especialista em inspeção de produtos de origem animal e vegetal.

Mais conhecido como vitamina C, o ácido ascórbico é utilizado no processo de industrialização da carne por melhorar o aspecto do produto, deixando-o com a cor vemelha intensa.

“Vitamina C é ótimo aditivo para a carne e é usado em níveis baixos na indústria – cerca de . 50g de vitamina C para cada 100kg de carne” explica Roberto. “[Seu uso] ajuda a reter melhor a cor do produto e não tem o intuito de ser fonte de vitamina C na alimentação, que pode ser encontrada em frutas, como a laranja ou a acerola.”

Fonte: Cláudia

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