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Uma nova vida pode começar depois dos 50

É possível mudar a forma de encarar vida e trabalho depois dos 40 ou 50 anos. Quem garante é a americana Carol S. Dweck, professora de psicologia da Universidade Stanford e especialista em motivação. Autora do livro "Mindset-A Nova Psicologia do Sucesso" (Objetiva, 328 págs.), que ganha versão atualizada depois de dez anos de lançamento, ela destrinchou, ao longo de décadas de pesquisa, o conceito de atitude mental ("mindset"). Para a estudiosa, a atitude mental das pessoas pode ser classificada em dois tipos: fixo e de crescimento. No primeiro, prevalece a crença de que há indivíduos mais inteligentes e talentosos que outros, cujo sucesso seria o resultado de qualidades natas. Quem tem essa mentalidade vive com uma sensação de superioridade que o faz fugir de riscos e novos aprendizados. Ao mesmo tempo, a ideia do fracasso pode se transformar em um trauma indelével.

"Eles procuram amigos ou parceiros que nada mais farão do que dar sustentação à sua autoestima, em vez de outros que o ajudarão a crescer", diz Carol Dweck, no livro que já vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares em todo o mundo.

Já para os indivíduos com atitude mental de crescimento, as qualidades podem ser cultivadas. "Eles acreditam que talentos e habilidades aparecem por meio de trabalho duro, boas estratégias e orientação", diz a autora para o Valor, da Califórnia, onde mora. "Essa é a atitude mental que permite às pessoas prosperarem nos momentos mais desafiadores de suas vidas."

Para exemplificar como as duas mentalidades funcionam na prática, ela usa no livro exemplos de personalidades conhecidas, como o ex-presidente da GE Jack Welch; o pintor americano Jackson Pollock (1912-1956) ou os executivos Jeffrey Skilling e Kenneth Lay (1942-2006), envolvidos na ruidosa falência da Enron, em 2001. Na entrevista a seguir, ela fala o que pode acontecer quando empresas são comandadas por líderes de diferentes atitudes mentais.

Qual a diferença entre um executivo de atitude mental fixa e outro com atitude mental de crescimento?

Carol S. Dweck: O de atitude mental fixa acredita e valoriza o talento nato, especialmente o dele. Rapidamente, rotula os colegas em categorias e os trata de acordo com esse pensamento. Pedem apenas elogios, sem críticas, e a concordância da equipe sobre suas decisões. Por outro lado, o líder de atitude mental de crescimento acredita que todos podem se desenvolver e cria programas na empresa para que isso aconteça. Esses estão sempre aprendendo e buscando informações sobre as pessoas, em todos os departamentos da companhia. Querem ainda um retorno crítico, porque isso lhes dirá como avançar de forma eficaz.

O que pode acontecer quando gestores de atitude mental fixa assumem o comando das empresas?

Carol: Fizemos um estudo com um grupo de empresas da lista da "Fortune 1000" nos Estados Unidos e pedimos aos funcionários que nos dissessem se a direção acreditava em talentos natos ou apostava que todos poderiam desenvolver habilidades. Nas companhias caracterizadas pela atitude mental de crescimento, houve relatos de uma atmosfera de inovação e criatividade, com forte ênfase no trabalho em equipe. Nas corporações de atitude mental fixa, os entrevistados falaram que havia táticas para "passar a perna" nos colegas, atalhos para fazer as coisas de um jeito mais fácil e a retenção de informações para chegar à frente dos outros. O mais interessante foi descobrir que os gerentes das firmas de atitude mental de crescimento avaliaram que empregados jovens tinham potencial para ganhar asas e de se tornarem "estrelas" dentro da organização. Isso mostra porque as corporações de atitude mental fixa gostam de contratar "talentos". Elas se concentram neles e oferecem recompensas. Mas, alguns anos depois, não veem esse "talento" florescer.

A senhora costuma dizer que muitos CEOs de atitude mental fixa precisam, constantemente, afirmar sua superioridade, enquanto a empresa que dirigem vira apenas uma plataforma para esse fim. O que fazer para que CEO e "grande ego" não virem sinônimos?

Carol: O guru empresarial Jim Collins chama essas pessoas de "gênio com mil ajudantes". Vivemos em uma época de rápidos avanços, em que produtos e serviços mudam em um ritmo sem precedentes. As empresas devem inovar continuamente para se manter competitivas. Ter um CEO que simplesmente quer receber elogios ou que todos concordem com ele é uma grande responsabilidade. Assim, em primeiro lugar, as companhias devem contratar líderes entusiastas da aprendizagem e que desejam retornos críticos para tomar decisões mais seguras. O dirigente deve promover e recompensar os esforços dos empregados mesmo quando, às vezes, eles falham. E também precisa pôr em prática ações que permitam que novos talentos e ideias surjam dos lugares mais improváveis.

É possível mudar de atitude mental depois dos 40 ou 50 anos? 

Carol: Sim. Peter Heslin, um pesquisador australiano, tem ensinado a atitude mental de crescimento a gestores e percebeu mudanças significativas de comportamento. Os líderes se tornaram mais abertos aos retornos dos funcionários e ficaram interessados em mentorias, em vez de simplesmente julgar quem tem ou não talento. Nunca é tarde demais.

Fonte: Valor
Enviada por JC

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