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O desafio de estimular a criatividade na dona do Google

Há algumas semanas, Astro Teller, diretor-presidente do laboratório de pesquisa e desenvolvimento X, da Alphabet, dona do Google, e sua equipe se prepararam para celebrar o Dia de Finados. Mas eles não comemoraram o feriado de 2 de novembro de uma forma tradicional, homenageando amigos e parentes falecidos. Em vez disso, fizeram um tributo às ideias fracassadas da empresa. “Construímos um altar para ajudar as pessoas a celebrar seus fracassos e chorar um pouco pelos projetos que eram importantes para elas e que tivemos que interromper”, diz Teller.

A X, anteriormente chamada de Google X, está localizada em Mountain View, na Califórnia, e se autodenomina uma “fábrica de viagens à lua”. Teller incentiva os empregados da empresa, que vão de engenheiros a filósofos e músicos, a contribuir com o maior número possível de ideias ousadas. (Ele não diz quantas pessoas trabalham na X ou qual é seu orçamento.) Teller, que tem 46 anos, escreveu que a empresa tem centenas de ideias que duram algumas horas, dezenas que sobrevivem algumas semanas e um punhado que chegam a meses.

Entre os atuais projetos estão carros autodirigíveis, balões de altitude elevada que oferecem conectividade à internet para os usuários abaixo e um novo tipo de turbina eólica. O objetivo é que esses projetos deixem a X e se tornem empresas próprias ou parte de uma outra unidade da holding Alphabet. Um dos projetos de maior êxito até o momento é o Google Brain, que foi iniciado em 2011 com a meta de tornar as máquinas mais inteligentes. Hoje, o projeto é parte da Research at Google, unidade da Alphabet que trabalha com gestão de dados, inteligência artificial e interação entre máquinas e humanos, entre outros campos de ponta. A tecnologia da Brain tem sido usada para melhorar os mapas da empresa e em suas ferramentas de busca e tradução.

A X acumula alguns tropeços, como o Google Glass, os óculos conectados à internet que foram lançados em 2014 e voltaram ao estágio de desenvolvimento um ano depois, em meio a problemas técnicos e críticas de que invadia a privacidade das outras pessoas. O Google está trabalhando em uma nova versão.

Teller, que entrou na X em 2010 e assumiu a liderança em 2012, tenta de várias formas fomentar um espírito de inventividade lúdica em sua equipe, começando pelos nomes dos cargos, que incluem exemplos como Rainha dos Contratos. Seu próprio cargo é de Capitão das Viagens à Lua.

“Eu certamente incentivo uma baixa deferência à autoridade aqui”, diz ele. “Humor e criatividade estão inexoravelmente ligados. É muito difícil ser triste ou sério [...] e aparecer com perspectivas realmente diferentes.” Ele acredita que quanto mais bobas, felizes e naturalmente infantis sejam as pessoas, mais chances elas têm de mudar perspectivas e ter ideias inovadoras. Com isso em mente, Teller frequentemente circula pelo escritório sobre patins.

Espera-se que haja uma boa quantidade de fracassos na empresa. Ideias recentes que foram descartadas incluem a instalação de uma grande bobina de cobre no Polo Norte para gerar eletricidade com a ajuda do campo magnético da Terra (algo considerado caro demais, no fim) e um navio de carga extremamente leve que poderia transportar produtos mais rapidamente e com menor emissão de carbono (que também foi considerado muito caro).

Teller cresceu em Evanston, no Estado americano de Illinois. O pai era um filósofo de ciências que se aposentou há dois anos. A mãe, que já trabalhou como compradora da Sears, trabalha com educação e problemas de saúde mental no Camboja. O físico Edward Teller, que ajudou a desenvolver a bomba de hidrogênio, era seu avô.

O nome de batismo do executivo é Eric, mas ele adotou o apelido de Astro depois que seus amigos do ensino médio disseram que seu novo corte de cabelo parecia a grama artificial AstroTurf. Ele se formou em ciência da computação na Universidade de Stanford e fez doutorado em inteligência artificial na Carnegie Mellon.

Ele então administrou uma série de empresas próprias, como uma fabricante de dispositivos para monitoramento de atividades físicas e um fundo de hedge. Quando abriu sua primeira empresa, uma incubadora de tecnologia, aos 28 anos, ele passou os primeiros meses tentando provar a seus funcionários como ele era inteligente. “Eu achei que, se pudesse fazer todo o trabalho deles melhor do que eles ao mesmo tempo, eu seria um bom diretor-presidente”, diz. Não funcionou.

“Eu tinha que decidir se queria me definir por minha inteligência [...] ou se queria vencer como empreendedor, e eu decidi que queria vencer. Então, empacotei meu ego e o coloquei numa caixa”, diz. “Apenas decidi que ouvir outras pessoas e encontrar formas de amplificá-las a partir da premissa de que estou errado era uma forma mais produtiva de ser um gestor e um líder.”

Hoje, ele tenta incentivar a criatividade dos funcionários ao mostrar a eles “alguns pontos fora da caixa que estão prendendo-os”, diz ele. Sua abordagem é: “Você não achava que estava pensando dentro da caixa e eu apenas mostrei a você o quanto mais estranhamente você poderia estar pensando”.

Teller mora perto de seu escritório com sua segunda mulher, Danielle Teller. Em 2014, os dois escreveram um livro de autoajuda chamado “Sacred Cows” (Vacas Sagradas, em tradução livre, sem edição em português) sobre casamento e divórcio. Eles analisaram, entre outras coisas, a razão de as pessoas se sentirem pressionadas a permanecer num casamento infeliz. O fracasso real, diz Teller, é quando as pessoas “dobram as apostas em coisas que sabemos que não deveriam ser dobradas”, seja um casamento, um negócio ou na vida.

Para ter certeza de que está “hiperpresente” e pronto para se conectar com sua equipe, ele dorme seis ou sete horas por noite, faz exercícios regularmente e limita o trabalho a 60 horas por semana. “Eu sou muito bom em entender as pessoas”, diz ele — mas esta é a parte fácil. Os avanços tecnológicos são “difíceis de prever. Eu não acredito que ninguém seja particularmente bom nisso”.

Fonte: WSJ

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