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Mais aleitamento salvaria 800 mil crianças por ano

Apenas uma em cada cinco crianças em países de alta renda recebe leite materno, mesmo que combinado com outra dieta, até completar 1 ano. Nas nações de baixa e média rendas, um em cada três bebês é exclusivamente amamentado durante os primeiros seis meses de vida. Mesmo distintos, os cenários resultam em milhões de meninos e meninas que não estão recebendo todos os benefícios fornecidos pelo alimento que vem das mães. Os resultados, publicados agora em uma série de dois estudos na revista The Lancet, derivam da maior e mais detalhada análise sobre níveis, tendências e benefícios do aleitamento no mundo.

“Ele é importante em países pobres e ricos, para mães pobres e ricas. A pobre evitará que seus filhos sofram com doenças, por exemplo a pneumonia. A rica terá menos riscos de doenças para ela própria: amamentando, evita câncer de mama, ovário e ainda ganha proteção contra diabetes e obesidade. A criança fica mais inteligente. Esse é um benefício para a vida toda e que também tem efeito importante na economia global. Serão adultos mais inteligentes e escolarizados, que produzirão e desenvolverão mais economicamente”, detalha Cesar Victora. Principal autor de um dos estudos e coautor do outro, Victora é pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul.

As novas estimativas indicam que o aumento do aleitamento materno para níveis quase universais para lactentes e crianças pequenas poderia salvar mais de 800 mil vidas infantis anualmente, o equivalente a 13% de todas as mortes de crianças menores de 2 anos no planeta. Evitaria ainda um adicional de 20 mil óbitos por câncer de mama a cada ano. A análise dos dados de 28 revisões sistemáticas e metanálises, das quais 22 foram encomendadas especialmente para os dois estudos divulgados concomitantemente na The Lancet, indicam que a amamentação não só tem vários benefícios de saúde para crianças e mães, mas também tem efeitos dramáticos sobre a expectativa de vida.

Por exemplo, em países de alta renda, ela reduz o risco de mortes infantis súbitas em mais de um terço, enquanto em nações de baixa e média rendas, cerca de metade de todos os episódios de diarreia e um terço das infecções respiratórias poderiam ser evitados. Há também um argumento econômico forte para o investimento na promoção do aleitamento materno: perdas econômicas globais provocadas por declínios de cognição relacionados à ausência do aleitamento ficaram em torno de US$ 302 bilhões em 2012.

Os autores calcularam que o aumento das taxas de aleitamento para crianças com menos de 6 meses em 90% nos EUA, na China e no Brasil, e em 45% no Reino Unido, cortaria os custos do tratamento de doenças comuns da infância e salvaria os sistemas de saúde em pelo menos US$ 2,45 bilhões nos EUA; US$ 29,5 milhões no Reino Unido; US$ 223,6 bilhões na China e US$ 6 milhões no Brasil.

Exemplo brasileiro

O Brasil, aliás, é considerado um exemplo de sucesso pelos pesquisadores. Na década de 1970, a duração média da amamentação era de três meses. Hoje, ultrapassa um ano. “Vários componentes contribuíram para isso, especialmente medidas tomadas pelo governo nos anos 1980 e 1970. Surgiram a legislação da licença-maternidade, a regulamentação das propagandas de leite em pó, o treinamento de profissionais de saúde que apoiam o aleitamento e a mídia divulgando os benefícios, com campanhas de atrizes dando o exemplo”, esclarece Victora. “Além disso, nossa sociedade tolera a amamentação, que é aceita em público. Em São Paulo, existe uma lei que aplica multa a quem proibir uma mulher de amamentar em restaurantes ou shoppings, por exemplo.”

Apesar disso, há desafios. Embora o Brasil tenha aderido ao aleitamento, a adesão à amamentação exclusiva — aquela na qual o bebê só se alimenta do leite materno até o 6 meses — ainda é baixa. “Mães que trabalham fora podem reservar o leite para que o filho tome durante o dia, enquanto elas estão fora. O empregador deve reservar um lugar para que ela colete o leite, com geladeira. Esse alimento é uma substância viva, na qual há presença de células-tronco e anticorpos que protegem o bebê de doenças que a mãe já teve antes. É uma vacina e não há nada melhor para a criança.”

Fonte: Correio Braziliense

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