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Não há mais espaço para a arrogância dos dirigentes

Arrogância. Este é um comportamento de executivos com o qual tenho me deparado constantemente e um dos que mais me desafiam no papel de coach. Os arrogantes são impenetráveis e não estão abertos a aprender - e a abertura para o autoconhecimento é justamente a base de um processo de coaching. Especialistas em comportamento humano dizem que a postura arrogante geralmente esconde medos e uma necessidade constante de autoafirmação. Lideranças que se escondem atrás desse escudo não permitem se expor para aprender e perdem a capacidade de fazer leituras de contexto.


A executiva de uma revista de moda Miranda Priestly, personagem vivida por Meryl Streep no filme \"O Diabo Veste Prada\", é um exemplo já antigo, mas que mostra claramente esse perfil de chefe orgulhoso, autocentrado e arrogante ao qual me refiro. Suas fraquezas são mascaradas pela entrega de bons resultados e, enquanto isso, as pessoas ao seu redor são absolutamente massacradas.

Na vida real, nem sempre o chefe é tão caricato como a influente \'publisher\', mas ainda assim encontro por aí muitas lideranças que têm dado trabalho para suas empresas. Diria até que a arrogância é o comportamento mais comum nos executivos com problemas de comportamento que recebo para aplicação do coaching - normalmente por indicação da própria empresa, que não sabe mais lidar com tal situação.


As reações que nos fazem reconhecer um executivo arrogante são comuns: eles encontram sempre uma desculpa para o próprio insucesso, querem sempre levar vantagem, nunca reconhecem seus erros, acham que sabem tudo, são exibidos e gostam de aparecer, criam conflitos e são antipáticos.

O filme \"O Diabo Veste Prada\" foi lançado em 2006 e, desde então, muita coisa tem evoluído no universo das corporações. Porém, esse tipo de comportamento infelizmente se estende até os dias de hoje. A diferença é que, com as novas políticas e práticas de gestão de pessoas, ele passou a ser mais exposto e menos tolerado que no passado.


As avaliações 360º e as pesquisas de clima pegam de jeito qualquer exagero comportamental. Hoje não se pode tolerar mais a presença de alguém que traz bons resultados financeiros, mas é um destruidor de relações interpessoais.


São poucas as situações que levam lideranças arrogantes a buscar uma mudança em seu comportamento. Geralmente, só admitem tal fraqueza quando pessoas importantes para elas rompem a relação por conta dessa característica, ou quando elas tropeçam na incapacidade de resolver algum grande problema. Para que haja qualquer mudança, é preciso admitir que ela é necessária. O feedback dos outros é, definitivamente, um grande provocador dessa transformação.


Posso garantir que quando existe a abertura, os resultados aparecem muito rapidamente. Questões básicas que ensinamos às crianças como dizer \"obrigado\" e \"por favor\", por exemplo, quando voltam a fazer parte do dia a dia desses executivos causam um impacto impressionante.


Todos os profissionais de sucesso passam por situações ao longo da carreira que podem levar a atitudes arrogantes. Até mesmo por imaturidade, executivos que alcançam rapidamente posições importantes tendem a achar que sabem de tudo e, com isso, deixam de ouvir o outro - mesmo que a prepotência não seja parte de seu perfil pessoal. Mas a vida o fará cair do cavalo rapidamente. A habilidade de ouvir traz uma enorme capacidade de ser bem-sucedido naquilo que você faz.

Quando olhamos para algumas lideranças que hoje estão sendo questionadas, cabe provocar a reflexão: será que, por insegurança, elas não estão se separando do mundo? Não se apegaram mais naquilo que elas gostariam de ser, na imagem que foi criada perante os outros, do que naquilo que realmente são?

Problema ainda maior é quando essa postura faz parte de um coletivo e não apenas de um indivíduo. Existem organizações de cultura arrogante, em geral sustentadas por pessoas arrogantes. Era fácil encontrá-las, por exemplo, no setor financeiro, antes da crise de 2008 - quando lideranças perderam a noção do risco, dos limites, e tais posturas determinaram o fim de grandes marcas corporativas. Como se pode ver, a arrogância não se sustenta por muito tempo.

Fonte: Valor Econômico
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