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Estudo derruba mito que mulheres são mais avessas a riscos nos investimentos

O senso comum diz que, em se tratando de investimentos, as mulheres assumem menos riscos que os homens. Julie Nelson, professora de economia da Universidade de Massachusetts, em Boston, diz que o senso comum está errado. Ela publicou recentemente um estudo que concluiu não apenas que o apetite de homens e mulheres por riscos financeiros é amplamente igual, mas que muitos dos dados anteriores que sugeriam tais diferenças foram mal interpretados. “Homens e mulheres tendem a ser muito mais parecidos em suas reações ao risco do que o entendimento popular de Marte versus Vênus implicaria”, diz ela na pesquisa, entitulada “Are Women Really More Risk-Averse Than Men? A Re-Analysis of the Literature Using Expanded Methods” (“As mulheres são realmente mais avessas ao risco do que os homens? Uma reanálise da literatura usando métodos expandidos”, em tradução livre). O “The Journal of Economic Surveys” (Revista de Pesquisas Econômicas) publicou o estudo em julho.

O estudo, que passou pela revisão de outros pesquisadores, reanalisou 35 trabalhos acadêmicos sobre risco e gênero nas áreas de economia, ciência da decisão e finanças. Ao fazer isso, Nelson desenvolveu um “Índice de Similaridade”, que analisa qual proporção de homens e mulheres mostrou o mesmo tipo de comportamento de risco nos estudos anteriores. Os trabalhos reanalisados consideraram predominantemente decisões de investimentos financeiros, mas também avaliaram decisões sobre loterias, jogos e saúde.

As descobertas de Nelson sugerem que homens e mulheres compartilham quase o mesmo apetite por riscos financeiros. A “sobreposição das distribuições [dos investimentos] dos homens e das mulheres [...] geralmente supera 80%”, diz o estudo feito por ela.

Mas é precisamente a interpretação desses dados que tende a ser errônea, diz ela. “É muito perigoso tentar tirar conclusões sobre as pessoas individualmente a partir desse tipo de avaliação”, diz. Por exemplo, o que significa, na medição da tomada de risco, a pontuação média das mulheres ser 85% da média dos homens? Isso não significa que a mulher é, em média, 15% menos propensa a correr riscos do que o homem, diz ela.

Você poderia, por exemplo, juntar todos os homens e mulheres em pares numa amostra e descobrir que, em todos os casais exceto um, o homem e a mulher têm exatamente o mesmo perfil de risco. Mas, se o homem naquele único casal diferente correu um risco muito maior do que qualquer outra pessoa na amostra, ele pode inflar a média masculina e distorcer todo o quadro.

A professora continua: Olhando para as distribuições reais nos estudos anteriores, havia sempre 80% ou mais homens e mulheres com o mesmo perfil de risco. Ficava frequentemente entre 90% e 95%, diz ela. “A diferença na média pode ser, e com frequência é, causada por um grupo pequeno”, diz ela.

Nelson acrescenta que, embora homens e mulheres individualmente não sejam tão diferentes no que se refere a correr riscos, eles se comportam de forma distinta em grupos.

No seu trabalho, ela cita um estudo publicado por Richard Ronay e Do-Yeong Kim no “British Journal of Social Psychology” (Revista Britânica de Psicologia Social) em 2006. A pesquisa mostra que, quando os homens assumem posições ou tomam decisões como parte de um grupo, eles tendem a adotar significativamente mais estratégias de risco do que um grupo de controle. Esse efeito não foi observado com as mulheres em grupos, observa Nelson.

Alguém poderia perguntar: Se homens e mulheres têm, individualmente, um apetite semelhante pelo risco, o que explica a propensão aparente dos homens para correr mais riscos em grupos? A resposta dela: Em grupo, os homens tendem a se exibir. Eles incitam um ao outro para mostrar o que ela chama de “norma cultural da ousadia do sexo masculino”.

Nelson cita diversos autores que ponderam uma questão parcialmente fantasiosa referente ao banco americano cujo colapso ajudou a precipitar a crise financeira global de 2008-2009: o Lehman Brothers (nome que em português seria traduzido como Irmãos Lehman). Será que a história seria diferente se, em vez do Lehman Brothers, Wall Street tivesse produzido um “Lehman Sisters” (Irmãs Lehman)? A pesquisa sugere que provavelmente as mulheres teriam assumido níveis de risco mais gerenciáveis do que os adotados pelo Lehman Brothers.

Matéria completa em WSJ

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