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Estudo mostra que sono ajuda no desenvolvimento cerebral das crianças

“Nunca ria dos sonhos dos outros. Quem não tem sonhos tem muito pouco.” A frase é um antigo provérbio chinês, mas nunca se mostrou tão atual. Em estudo publicado esta semana na revista Science Advances, cientistas americanos encontraram mais evidências de que a fase do sono chamada de REM — a mais profunda e que costuma abrigar as imagens oníricas — é fundamental para cristalizar as conexões entre neurônios formadas durante o dia, fazendo com que as informações adquiridas quando se está acordado fiquem armazenadas no cérebro. O estudo também reforça a tese de que dormir bem é essencial para o desenvolvimento mental das crianças, o que explicaria por que os bebês passam tanto tempo com os olhos fechados.

A curiosidade sobre o motivo que faz recém-nascidos passarem tanto tempo dormindo, por sinal, foi o que motivou o estudo, conta ao Correio o pesquisador Marcos Frank, coautor do trabalho. “Um antigo mistério na biologia é por que os bebês passam tanto tempo no sono REM? E por que nós perdemos todo esse sono REM à medida que envelhecemos? Não são apenas os seres humanos, todos os mamíferos semelhantes a nós mostram as mesmas mudanças no desenvolvimento”, diz o cientista da Universidade Estadual de Washington. “Surgiu entre especialistas, então, a ideia de que o sono é necessário para o desenvolvimento do cérebro, mas isso tem sido difícil de estudar. Mas é importante investigar essa questão porque, talvez, o mau sono na infância possa ter efeitos prejudiciais sobre o cérebro que duram toda a nossa vida”, completa.

A forma que ele e colegas encontraram para estudar o tema foi usar gatos como modelo. Em um experimento no qual limitaram as vezes que os animais podiam entrar no sono mais profundo (veja infografia), os especialistas perceberam que os animais passaram a ter dificuldade de processar imagens e apresentaram deficiência de uma enzima ligada à cristalização das sinapses. Ou seja, as conexões entre neurônios surgem quando se está acordado, mas é durante o sono REM que elas se fixam.

Inspiração brasileira

Frank esclarece que as observações corroboram descobertas anteriores do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, que serviram como ponto de partida para o trabalho. “Nós fomos impulsionados a olhar para esse tema também por causa de Ribeiro. Ele revelou que, durante o sono REM, certos genes são ativados, especialmente depois de um animal aprender alguma coisa ou ficar em um ambiente que provoca mudanças na plasticidade do cérebro”, diz. “Nós vimos que, se os animais não conseguem ter um pouco de sono REM, as alterações desaparecem. Então o REM, como Ribeiro sugeriu, atua na experiência de ‘correção’ no cérebro.”

Pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Sidarta Ribeiro concorda que o novo trabalho reforça suas observações. “O trabalho de Marcos Frank é muito interessante e confirma achados sobre o sono REM e a plasticidade que fiz nos últimos 16 anos. Acredito que esse novo artigo vai ajudar bastante na pesquisa dos mecanismos cognitivos do sono REM”, comenta ao Correio.

Para o pesquisador da Universidade Estadual de Washington, o estudo também serve de alerta sobre como dormir bem é um processo fundamental para o desenvolvimento infantil. “Nós não respeitamos o sono de nossas crianças. Achamos normal deixá-las fazer lição de casa até tarde da noite ou acordá-las muito cedo”, destaca Frank. Ele também ressalta que muitos remédios usados para dormir podem prejudicar a qualidade do sono. “E há um crescente uso de drogas psicotrópicas em crianças para uma variedade de sintomas, e muitas delas inibem o sono REM”, acrescenta.

Fonte: correiobraziliense.com.br

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